Chega a um ponto em que o silêncio se torna cumplicidade. Quando um dos maiores jornais do país volta a abordar o tema da reposição do tempo de serviço dos professores — depois de dois meses de ausência noticiosa — e o faz com base em números redondos e sem contraditório, é impossível ficar calado. A narrativa que o Expresso apresentou não corresponde à realidade que milhares de docentes enfrentam diariamente.
Em nome da verdade, da justiça e do respeito por uma classe profissional constantemente atropelada por burocracias e desinformações, a metaprof enviou ao jornal a carta que agora partilhamos. Não é apenas uma chamada de atenção — é uma exigência de rigor e honestidade. Os professores merecem mais do que notícias apressadas: merecem ser ouvidos, e acima de tudo, merecem que a realidade dos factos seja respeitada.
A MetaProf, ao contrário do MECI e de alguns jornalistas tem dados recolhidos que mostram uma realidade bem distinta daquela que foi publicada. Aqui fica, por inteiro, a carta que escrevemos ao referido jornal.
Caro Senhor Diretor e Caríssimas Senhoras Jornalistas do Semanário Expresso
No passado dia 22 de maio, pelas 22:57, a V/ publicação regressou ao tema da “Reposição do Tempo dos Professores”, para dar nota de que tal operação irá implicar um custo de 11,5 mil milhões de euros.
Após dois longos meses de silêncio, a propósito das aflições que atingem a classe docente, surge em estratégico tempo a reposição do tempo outrora subtraído à carreira dos docentes em exercício.
Quanto às decisões editoriais, no que concerne à abordagem dos temas relacionados com Serviço Público de Educação, não temos qualquer responsabilidade, porém quanto à lisura e rigor dos factos, talvez por defeito profissional, temos umas quantas aulas públicas a prestar.
De facto, não será necessário ser expert em práticas de investigação para perceber que a Reposição do Tempo de Serviço, nos termos acordados no passado dia 21 de maio de 2024, não tem sido um processo célere, justo e equitativo. Para além da discriminação etária que promove, o modelo administrativo a que deu azo, assume contornos de um complexo nó, que consome tempo, energia e entusiasmo aos professores.
A complexidade deste enredo administrativo, que se estende de Norte a Sul do país, deve-se a inúmeras particularidades, nomeadamente, o facto de a responsabilidade, da dita reposição, ter sido entregue aos serviços administrativos dos mais de 800 agrupamentos de escolas da rede do Serviço Público de Educação.
A este propósito, o Sr. Ministro da Educação Ciência e Inovação, Dr. Fernando Alexandre (no “Seminário de Abertura do Novo Ano Letivo – Educamos Juntos”, no dia 6 de setembro de 2024, em Barcelos) afirmou-se surpreendido e pediu desculpa aos docentes, pela forma como o processo estaria a decorrer, uma vez que, ao celebrar o acordo com parte das instituições sindicais, considerou que o tratamento, dos registos biográficos dos docentes, fosse digital e não uma versão em pilhas de papel, que acompanha o docente, pelas diversas escolas por onde passa.
Ora, meses depois dessas afirmações, às originais pilhas de papel , onde os docentes têm a sua carreira plasmada, somam-se páginas sem fim, fruto das notas informativas da Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE) e dos mistérios das plataformas do Instituto de Gestão Financeira da Educação, IP (IGeFE).
Porém, como a concentração docente não se restringe à apreciação da pilha de papelada individual, a MetaProf tem vindo a realizar um sério levantamento de dados, que ilustram o estado da reposição do tempo. Os dados são reveladores e completamente contrários à versão do Expresso, quando refere que “A primeira tranche foi paga em setembro do ano passado, a segunda chega aos bolsos dos professores no próximo mês de junho e as restantes serão pagas em julho de 2026 e julho de 2027.”
No primeiro inquérito, realizado em outubro de 2024, à pergunta “Já lhe devolveram os 25% do seu tempo de serviço congelado?” 87.56% dos inquiridos responderam Não!
E, de acordo com a participação dos inquiridos no segundo inquérito, lançado na semana passada, um ano após a celebração do acordo, a situação não se alterou substancialmente. A maioria dos professores, para além de não ter recuperado qualquer tempo de serviço, permanece sem saber se e quando tal irá ocorrer.
Assim, face ao exposto, a MetaProf solicita a Vossas Excelências a reposição da lisura e rigor dos factos, colocando-se à Vossa inteira disposição para partilhar a informação / dados recolhidos em ambos os inquéritos.
a Equipa
metaPROF.pt

Continuamos a recolher a opinião dos professores – Participa no nosso Questionário:
Já Recuperou os 25% do seu Tempo de Serviço Congelado?
https://www.metaprof.pt/forms/rts2025
relatório: Inquérito outubro de 2024 – metaprof.pt

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